Depois da publicação de uma biografia atualizada do pintor Victor Meirelles, a Editora Caminho de Dentro apresenta agora aos leitores uma bela seleção de textos de Cruz e Sousa, nos quais o poeta simbolista exprime sua condição de negro e a consciência da negritude.
A obra foi organizada pela professora e pesquisadora ZilmaGesser Nunes que, em parceria com Iaponan Soares, publicou também, pela editora da UNESP, o livro Dispersos: poesia e prosa de Cruz e Sousa e,com Mauri Furlan, As metamorfoses de Ovídio em edição bilíngue Latim e Português, este pela Editora da UFSC, além de vários outros títulos.
Conforme diz a organizadora na Introdução, o livro que está sendo lançado“configura uma mostra da forma como o poeta tratou o negroem sua produção, seja em sua condição de escravo, em cenas de dor e humilhação, seja na condição de poeta emparedado por uma sociedade preconceituosa, seja em textos que evocam a sensualidade africana, a beleza e a volúpia dos prazeres carnais”.
Cruz e Sousa era filho de escravos, mas recebeu educação de qualidade graças à proteção que teve do casal Clarinda Fagundes e Guilherme Xavier de Sousa, militar herói da Guerra do Paraguai. Em reconhecimento, João da Cruz adotou o nome pelo qual é mundialmente conhecido.
João da Cruz nasceu em 1961 na Ilha de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Ainda jovem, iniciou sua atividade literária e jornalística, engajando-se também na campanha abolicionista. Na Província, integrou um grupo chamado de Ideia Nova, que defendia a estética realista. Em 1889 transferiu-se definitivamente para o Rio de Janeiro. Nesta cidade conheceu Gavita Rosa Gonçalves, imortalizada em um de seus poemas como“Rosa Negra”.
No Rio de Janeiro, através do editor Domingos de Magalhães, lançou os livros Missal, em prosa, e Broquéis, de poesia, ambos em 1893. A crítica literária aponta Broquéis como o livro que inaugura o Simbolismo no Brasil.
A obra mais importante de Cruz e Sousa, no entanto, somente veio a público após a sua morte, através dos amigos Saturnino de Meireles e Nestor Victor. Destacam-se os livros Evocações (1898), Faróis (1900) e Últimos sonetos (1905).
Em 1924, por iniciativa de Nestor Victor, surgiu a primeira Obra completa.No centenário de nascimento, veio a público a segunda Obra completa, organizada por Andrade Murici. Anos mais tarde, a mesma foi atualizada por Alexei Bueno. Enfim, a reunião mais completa da obra de Cruz e Sousa foi publicada em 2008 por Lauro Junkes. A par disso, livros de crítica literária e de História aclamam o poeta negro como expressão máxima do Simbolismo no Brasil, fazendo páreo com mestres universais como Mallarmé e Baudelaire.
No Rio de Janeiro, Cruz e Sousa lutoupara sobreviver, trabalhando como arquivista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1898, com 36 anos, despediu-se de Gavita, grávida do quarto filho, para tratar-se de uma tuberculose em Barbacena, Minas Gerais. Mas não resistiu à doença. Seu corpo retornou ao Rio num vagão de trem destinado ao transporte de animais.
Na apresentação de Negro, o professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina Jair Tadeu da Fonseca destaca a contribuição de Cruz e Sousa para a negritude, antecipando-se ao político e poeta senegalês Leopold Senghor, que criou esse conceito. Afirma ele: “O rigor e o apuro formais dos poemas e outros textos de Cruz e Sousa são inseparáveis do trato que deu à sua condição afro-brasileira”.
SERVIÇO
Título do
livro: Negro – Cruz e Sousa
Organização e introdução: ZilmaGesser Nunes
Editora: Caminho de Dentro Edições
No. De páginas: 192
Preço: R$ 41,00
(Texto livre para divulgação)